PANDEMIAS
Vivemos dias de coronavírus, que continua a matar diariamente dezenas de pessoas, ameaça alastrar a todo o
mundo e está a pôr em causa a economia mundial. Razões para alarme? Sim, até
porque hoje, com a população mundial em permanente mobilidade, o perigo de
surgirem pandemias é muito maior. Mas a história está repleta de momentos como
este.
Ciclicamente a humanidade tem
sido confrontada, e dizimada, com epidemias graves que afetam vastas regiões.
Surtos (manifestações locais),
epidemias (surtos de âmbito regional) e pandemias (epidemias que se tornaram
globais) fazem parte da história do homem. Bactérias, vírus e outros
microrganismos têm causado mais mortes que a totalidade das mais sangrentas
guerras, das mais terríficas erupções vulcânicas ou dos mais assustadores
sismos.
Estas foram (e são) algumas
das maiores causas de morte entre humanos:
- Peste bubónica: 50 milhões
de mortos (Europa e Ásia) do ano 1333 a 1351.
- Cólera: a maior pandemia fez
centenas de milhares de mortos de 1817 a 1824.
- Tuberculose, uma das maiores
epidemias causou 1 bilião de mortos entre 1850 e 1950
- Varíola: responsável por 300
a 500 milhões de mortos de 1896 a 1980. Foi
erradicada em 1980.
- Tifo (febre tifoide): 3
milhões de mortos (Europa Oriental e Rússia) de 1918 a 1922.
- Febre amarela: entre 1960 e
1962 causou 30 000 mortos na Etiópia.
- Sarampo: responsável, até
1963 por 6 milhões de mortos por ano.
- Malária: 3 milhões de mortos
por ano, desde 1980.
- HIV-SIDA: Fez 22 milhões de
mortos desde 1981, e continua.
- Gripe: maior epidemia: 20
milhões de mortos durante a 1ª Guerra Mundial (1918 a 1919) a gripe espanhola,
mas continua a causar vítimas com surtos em todo o mundo. As epidemias são mais
frequentes e de carácter sazonal. As pandemias são muito menos comuns.
Registaram-se, até hoje, seis grandes surtos pandémicos, em geral batizados com
o nome do local presumido de origem:
1889: gripe russa (H2N2)
1900: gripe velha de Hong Kong
(H3N8)
1918: gripe espanhola (H1N1)
1957: gripe asiática (H2N2)
1968: gripe de Hong Kong
(H3N2)
2009: gripe suína (influenza A
- H1N1).
Muitos e muitos milhões de
mortos! No entanto, é irónico constatar que, enquanto governos de todo o mundo
gastam muitos biliões com as “ciências da guerra” – procurando soluções cada vez
mais eficazes para matar os seus semelhantes – basta uma microscópica bactéria
mais teimosa ou um ainda mais invisível e enigmático vírus nos atacar, para sermos
apanhados desprevenidos e sem meios imediatos, nem de defesa, nem de ataque.
Quando a pandemia se declara,
há que, à pressa, arregimentar exércitos de cientistas, criando as condições para
a identificação e eliminação do inimigo ou erguendo infraestruturas de última
hora, para suster a sua propagação. Mas, como este é um inimigo que não
respeita fronteiras nem tem complexos de classe social, ataca em qualquer lugar
e qualquer um.
Perante inimigos desta
envergadura, para que nos servem os mísseis, as bombas ou qualquer poderio
nuclear? Se grande parte daquilo que se gasta em armamento militar fosse
destinado ao estudo desse mundo invisível e a criar condições de vida mais
humanas e sustentáveis, talvez não fôssemos apanhados tão desprevenidos.
A complexidade da mente
humana, na sua sobranceria hegemónica, perde sempre contra a mortal simplicidade
de atuação de um qualquer ou vírus.