VINTAGE
A minha crónica n'O ALMEIRINENSE de 1 de janeiro de 2020
A minha crónica n'O ALMEIRINENSE de 1 de janeiro de 2020
Neste mesmo local, há um ano
atrás, dissertava eu sobre as transformações que assolavam a sociedade, receoso
da insegurança que se ia apoderando da atual versão do “homo sapiens”, incrédulo e indeciso sobre tudo o que o
rodeia, não sabendo distinguir o real do virtual.
Fazia votos e exprimia desejos,
para o ano que agora findou, de “uma sociedade mais exigente e menos permeável,
que faça da defesa da Liberdade e dos valores da Democracia o seu desígnio”.
Olhando em retrospetiva, só me resta reafirmar os votos, ao constatar que a vigarice
das fake news, da desinformação e da mentira, em vez de castigar, premeia
alguns dos seus maiores seguidores. Na gíria vinícola “vinho-a-martelo” é uma
vigarice que se vende bem porque custa pouco. Quando a vigarice afeta o destino
de algumas das grandes nações, baluartes da democracia e dos direitos humanos, é
caso para nos começarmos a preocupar; - na Grã-Bretanha, que de vintage só
possui a antiguidade e o cheiro a naftalina – porque a qualidade e a excelência
da sua democracia, deixou de rimar com “british” –, Boris Johnson utilizou em
seu benefício a receita e ganhou; - nos EUA, Trump, aplicando a receita, vai
transformando um justíssimo processo de destituição em bandeira da sua
reeleição. E os seus discípulos, por todo o Mundo, andam num frenesim
Cada um pode beber o que quer,
é verdade, mas é pouco inteligente trocar a qualidade e a excelência pelo “vinho-a-martelo”.
Que 2020 – vinte, vinte – seja
mesmo um ano vintage. Que a colheita do próximo ano seja mesmo excecional, que
a qualidade supere em muito a mediocridade. São os votos.
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