11 dezembro, 2017

O clima a mudar - 2

O mundo "…enfrenta a problemática do direito humano à água e a exigência de políticas públicas para enfrentar esta realidade", já concluiu o Papa Francisco em fevereiro deste ano.
“O Almeirinense” deu destaque, na sua última edição, ao facto do nosso concelho se encontrar em situação de seca extrema, desde outubro passado. Como grande parte do país se encontra em situação idêntica, não é de admirar que soem os alertas. Muito se tem escrito nos últimos tempos acerca do tema, mas a magnitude do assunto impõe que se insista nele. Embora nos últimos dias, a chuva tenha surgido com alguma frequência, o défice de água é de tal magnitude que estima-se serem necessários dois meses de chuva para estabilizar a situação.
Penso que a maioria da população não está ainda mentalizada para a gravidade do problema. Tem-se uma relação de laxismo e impunidade em relação ao uso da água que é urgente inverter, mudando comportamentos há muito instalados. A utilização da água tem de ser objeto de um movimento de consciencialização cívica que leve a sociedade a alterar hábitos adquiridos e interiorizar o seu valor como o de um bem escasso e público. Ninguém é dono da água, a água é de todos, é património da humanidade e ninguém tem o direito de fazer uso indiscriminado dela. Seja na indústria, na agricultura ou no uso doméstico.
Os poderes públicos e a sociedade civil têm de investir em conhecimento que permita a invenção de novos equipamentos e métodos que mitiguem o consumo de água na indústria e na agricultura, os principais utilizadores.
Quanto ao uso doméstico e urbano, os edifícios do futuro terão, obrigatoriamente, de ser pensados, em relação ao consumo de água, com as mesmas preocupações que hoje dispensam à sua eficácia energética. Numa sociedade como a atual, possuidora de tanto conhecimento e geradora de tecnologias até há pouco impensadas, é necessário descobrir equipamentos (torneiras, autoclismos, máquinas de lavar…) ainda mais eficientes, reinventar processos de aproveitamento de águas domésticas e industriais. É necessário pensar em edifícios “poupadores” de água (reutilizações, por exemplo), nas suas diversas vertentes, não esquecendo que parte da água da chuva, por escassa que possa ser, poderá ser reaproveitada para utilização posterior. Está aqui um desafio para os engenheiros e arquitetos.
Portanto, o uso racional da água por todos, com o inerente respeito de quem utiliza um bem público, devia, antes de tudo, de ser um imperativo moral e de civilidade.
“Hoje é o petróleo, amanhã será a água”, alguém disse, pressagiando uma futura guerra mundial por causa dela.
A água é um direito humano e um património das nações e das suas gentes. A sua defesa tem de ter um lugar central nas políticas públicas, e para que isso aconteça, nunca poderá estar fora da esfera do Estado.
(Artigo publicado no jornal O Almeirinense de 1 de dezembro de 2017)

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