26 junho, 2019

Mudo, cego e surdo

Um salto de 2017 para 2019. Iniciado em 2016, desde 2017 que o Sétima Sinfonia esteve sem qualquer pensamento, sem qualquer comentário, observação ou foto. Esteve, por isso, Mudo, Cego, e Surdo. Este é um triplo estado que não se deseja a nenhum ser vivente - útil, só na metáfora dos três macacos sábios - embora a produção de pensamentos não seja impeditiva em qualquer deles.
Sem voz não podemos expressar a essência verdadeira das palavras: posso escrever AMO-TE num papel branco e não passa disso, de cinco sinais gráficos, frios e até impessoais, porque há impessoalidade na palavra escrita. Mas posso dizer AMO-TE com voz doce, convincente, sincera, e... dizer AMO-TE de supetão, brusco e agressivo, como quem cumpre uma obrigação. O importante está, não no que se diz, mas como se diz.
A cegueira é um inferno de sons, cheiros e aragens vindos sabe-se lá de onde. O pensamento na cegueira é feito da suposição sobre outros sentidos. É onírico, pois é o imaginário que dá forma ao rel. Mas a pior cegueira é, como todos bem sabemos, a recusa em ver, estando de olhos abertos.
Neste momento, em que escrevo, ouço "Fandango" de Luigi Boccherini. Apercebo-me que vou meneando a cabeça ao som dos violinos, das guitarras, das castanholas e do ritmo. A música entrou em mim e mistura-se com os outros pensamentos, sem conflitos, quase sempre indicando caminhos, complementando-os. Eu, se não pudesse ouvir, sobreviveria como pensador amputado e triste. Não tenho a força de Beethoven... A surdez faz do homem um desconfiado temeroso ou um louco destemido. Sempre preferi a lucidez dos loucos.
Estes incertos tempos, em que se opina atabalhuadamente acerca de tudo sem qualquer fundamentação (coisa de intelectuais), em que a cultura existe em forma de pronto a servir, parecem tempos loucos. Talvez não. O mundo foi sempre assim, caótico e incerto. Loucos são os que, para lhe dar sentido, procuram a todo o custo a Verdade, sabendo que nunca a irão encontrar.

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