A chuva é tão necessária à vida, tanto como a sua falta é
sinal de morte. Não só a sua falta prenuncia a morte, também o seu excesso. Mas
a chuva é física, sente-se e vê-se. Mesmo quando temos de lutar contra dilúvios,
sabemos o que enfrentamos. Podemos ficar molhados ou ressequidos até aos ossos.
Podemos morrer afogados ou de sede. A chuva é o bem que por vezes é o mal. É
humana porque também somos chuva.
O nevoeiro é o indizível porque não é material. Não se
engole uma mão cheia de nevoeiro, não construímos barreiras para o suster, e mesmo
que nos invada e cerque não morremos por isso. Aparece e foge, fora do nosso controle.
Quando surge, paulatina e silenciosamente, insinua-se por todas as frestas e
isola-nos. O nevoeiro espalha-se como um odor que se vê, mas não se cheira. As
únicas características do nevoeiro são a humidade e a gradual opacidade. A humidade
é água escorregadia e falsa, a opacidade é perigo e ignorância. O nevoeiro está
no limbo do compreensível e do indescritível. O nevoeiro é perigoso porque pode
ser armadilha. O nevoeiro põe em guarda o nosso “ser” reptiliano, porque suscita
incertezas e temores.
Este ano que começa, como qualquer coisa nova, traz sempre
consigo uma carga de dúvidas e, também, de alguma esperança. O Ano Novo não é
exceção. Muitas dúvidas acerca do Humanismo dos homens, mas sempre a esperança
que o nosso “lado bom” prevaleça.
Vamos continuar a assistir ao desumanismo dos senhores da
guerra, à soberba dos senhores do dinheiro e à raiva e violência dos ignorantes.
Representam o pódio dos torcionários. Os senhores da guerra banalizam a morte,
os senhores do dinheiro sentem-se uma espécie à parte dos humanos e os ignorantes
propalam verborreia de caserna contra a sociedade que os acolhe, unicamente
porque ainda não são senhores da guerra nem do dinheiro. É o nevoeiro a
imperar.
A esperança da vida reside na esperança da mudança. A
esperança de que os senhores da guerra – porque se alimentam da guerra – morram
à falta dela; a esperança de que os senhores do dinheiro se tornem humanos e
humanistas e a esperança de que os ignorantes invistam em conhecimento e
sabedoria, e se tornem mais lúcidos.
Que este ano seja, para todos, um ano de esperanças
concretizadas.
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