02 janeiro, 2023

ANO NOVO. NEVOEIRO E ESPERANÇA




O primeiro dia do ano foi muito chuvoso. O segundo foi de nevoeiro intenso. A chuva, quando cai normalmente e não em torrentes devastadoras, é metáfora de vida e de esperança. O nevoeiro representa a incógnita, o desconhecido para além do que se avista, a dúvida do cenário por detrás da cortina.

A chuva é tão necessária à vida, tanto como a sua falta é sinal de morte. Não só a sua falta prenuncia a morte, também o seu excesso. Mas a chuva é física, sente-se e vê-se. Mesmo quando temos de lutar contra dilúvios, sabemos o que enfrentamos. Podemos ficar molhados ou ressequidos até aos ossos.  Podemos morrer afogados ou de sede.  A chuva é o bem que por vezes é o mal. É humana porque também somos chuva.

O nevoeiro é o indizível porque não é material. Não se engole uma mão cheia de nevoeiro, não construímos barreiras para o suster, e mesmo que nos invada e cerque não morremos por isso. Aparece e foge, fora do nosso controle. Quando surge, paulatina e silenciosamente, insinua-se por todas as frestas e isola-nos. O nevoeiro espalha-se como um odor que se vê, mas não se cheira. As únicas características do nevoeiro são a humidade e a gradual opacidade. A humidade é água escorregadia e falsa, a opacidade é perigo e ignorância. O nevoeiro está no limbo do compreensível e do indescritível. O nevoeiro é perigoso porque pode ser armadilha. O nevoeiro põe em guarda o nosso “ser” reptiliano, porque suscita incertezas e temores.

Este ano que começa, como qualquer coisa nova, traz sempre consigo uma carga de dúvidas e, também, de alguma esperança. O Ano Novo não é exceção. Muitas dúvidas acerca do Humanismo dos homens, mas sempre a esperança que o nosso “lado bom” prevaleça.

Vamos continuar a assistir ao desumanismo dos senhores da guerra, à soberba dos senhores do dinheiro e à raiva e violência dos ignorantes. Representam o pódio dos torcionários. Os senhores da guerra banalizam a morte, os senhores do dinheiro sentem-se uma espécie à parte dos humanos e os ignorantes propalam verborreia de caserna contra a sociedade que os acolhe, unicamente porque ainda não são senhores da guerra nem do dinheiro. É o nevoeiro a imperar.

A esperança da vida reside na esperança da mudança. A esperança de que os senhores da guerra – porque se alimentam da guerra – morram à falta dela; a esperança de que os senhores do dinheiro se tornem humanos e humanistas e a esperança de que os ignorantes invistam em conhecimento e sabedoria, e se tornem mais lúcidos.

Que este ano seja, para todos, um ano de esperanças concretizadas.




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